ATA DA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 18.05.1987.
Aos dezoito
dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na
Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre,
em sua Quadragésima Primeira Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa
Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada
a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adão Eliseu, Antonio
Hohlfeldt, Aranha Filho, Artur Zanella, Bernadete Vidal, Brochado da Rocha,
Caio Lustosa, Cleom Guatimozim, Clóvis Brum, Frederico Barbosa, Getúlio
Brizolla, Ignácio Neis, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, Jorge Goularte, Jussara
Cony, Kenny Braga, Lauro Hagemann, Mano José, Nilton Comin, Paulo Sant'Ana,
Pedro Ruas, Rafael Santos, Raul Casa, Teresinha Irigaray, Wilson Santos,
Cláudio Dubina e Flávio Coulon. Constatada a existência de "quorum",
o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou ao Ver. Jorge
Goularte que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, o Sr.
Secretário procedeu à leitura da Ata da Quadragésima Sessão Ordinária, que foi
aprovada. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios n.ºs 267/87, do Sr. Prefeito
Municipal; 280/87, do Sr. Chefe da Casa Civil do Governo do Estado; Ofícios
Circulares n.º 07/87, da Câmara Municipal de Palmitinho, RS; s/n.º, da Câmara
Municipal de Campo Bom; Cartão da Câmara de Vereadores de Vicente Dutra, RS;
Telegrama do Sr. Antônio Carlos Ribeiro. A seguir, o Ver. Mano José formulou
Requerimento oral solicitando a suspensão dos trabalhos da Casa em vista das
precárias condições higiênicas existentes, o qual, após comunicação do Sr.
Presidente de que seriam contratados imediatamente os serviços de uma firma de
limpeza, foi retirado pelo Autor. Na ocasião, o Sr. Presidente respondeu
Questões de Ordem dos Vereadores Flávio Coulon, Kenny Braga, Nilton Comin,
Isaac Ainhorn, Paulo Sant'Ana e Jorge Goularte, acerca do Requerimento oral do
Ver. Mano José acima referido. Em GRANDE EXPEDIENTE o Ver. Nilton Comin
reportou-se ao Requerimento do Ver. Mano José, de hoje, solicitando a suspensão
dos trabalhos da Casa em face das condições precárias de higiene em que se
encontra este prédio. Registrou que, esta semana, o Esporte Clube São José, de
Porto Alegre, comemora o seu aniversário de fundação, discorrendo sobre a
criação e o desenvolvimento deste clube e seu significado para a história do
esporte rio-grandense. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, a Ver.ª Jussara Cony, falando do
alto nível de violência e repressão policial encontrado no País, denunciou
agressões sofridas por três estudantes da Unisinos em passeata havida no último
dia três, de parte da Brigada Militar, e o assassinato do Sr. Júlio César de
Melo Pinto, militante do Movimento Negro no Estado, clamando à Casa que tome
medidas que possam auxiliar o esclarecimento de tais fatos. Em COMUNICAÇÃO DE
PRESIDENTE, o Ver. Brochado da Rocha comentou o quadro político e econômico do
País, analisando a desmobilização atual dos Partidos Políticos e defendendo as
eleições diretas para a Presidência da República. Comentou o pronunciamento da
Vereadora que o antecedeu, salientando a necessidade de medidas urgentes que
possam sanar as precárias condições de segurança em que se encontra a sociedade
brasileira. Ainda, em GRANDE EXPEDIENTE, o Ver. Wilson Santos discorreu acerca
dos graves problemas ocasionados pela paralisia infantil, lembrando os
objetivos da campanha mundial de vacinação contra esta doença. Salientou
campanha promovida pelo Rotary Clube do Distrito 467, no sentido de adquirir
doses da vacina Sabin, congratulando-se com tal atitude e destacando que a
mesma se efetuou no anonimato. Referiu-se a declarações do Sr. Secretário da
Comissão Municipal de Defesa Civil e do Sr. Presidente desta Comissão, em que
estas autoridades colocam a falta de condições para melhoria da defesa civil em
Porto Alegre, clamando por providências do Executivo Municipal que possam sanar
o problema. O Ver. Jorge Goularte referiu-se aos problemas do perímetro urbano
da Capital, falando sobre a falta de segurança evidenciada no Centro da Cidade.
Tratou sobre a retirada dos camelôs e ambulantes do Centro da Cidade, lembrando
diversas sugestões que fez ao Executivo no sentido de melhorias nesta área e que
não foram ouvidas pela Administração Municipal. Ao final, enfatizou a
necessidade de aumento do policiamento no Centro da Cidade. Em COMUNICAÇÃO DE
LÍDER, o Ver. Antonio Hohlfeldt solidarizou-se com o pronunciamento, de hoje,
do Ver. Brochado da Rocha. Analisou o posicionamento do Sr. Alceu Collares com
relação à greve dos funcionários municipais, lembrando as promessas feitas por
S.Exa. ao funcionalismo durante a campanha para o Governo Municipal. Protestou
contra as pressões sofridas pelos professores municipais grevistas de parte da
SMEC, solidarizando-se com o movimento dos municipários. A seguir, o Sr.
Presidente acolheu Questão de Ordem do Ver. Getúlio Brizolla, solicitando
verificação de "quorum". Constatada a inexistência de "quorum",
o Sr. Presidente levantou os trabalhos às dezesseis horas e quinze minutos,
convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha,
Teresinha Irigaray, Jaques Machado e Lauro Hagemann, o último nos termos do
art. 11, 3º do Regimento Interno, e secretariados pelos Vereadores Frederico
Barbosa, Jaques Machado e Jussara Cony, a última como Secretária “ad hoc”. Do
que eu, Frederico Barbosa, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente
Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Srs.
Presidente e 1ª Secretária.
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray):
Tem a palavra o Ver. Mano José.
O SR. MANO JOSÉ
(Requerimento): Sra. Presidente, requeiro a V.Exa. que submeta à apreciação da Mesa
que, após ouvido o Plenário, sejam suspensos os trabalhos desta Casa, não só de
Plenário, mas de toda a Câmara, até que esta Casa tenha condições mínimas de
higiene para que seus funcionários, os Srs. Vereadores e os visitantes que aqui
chegam tenham condições de satisfazer suas necessidades fisiológicas em
ambiente higiênico e limpo nos banheiros. Não mais há condições de se entrar
num banheiro da Casa.
O SR. JORGE GOULARTE: Endosso o Requerimento do
Ver. Mano José.
O SR. FLÁVIO COULON (Questão
de Ordem):
Para contraditar, Sra. Presidente. Apesar de considerar ponderáveis as
alegações do Ver. Mano José, entendo que, por todas as repercussões de um ato
desse tipo, as quais até levo à consideração, de que encerraremos os trabalhos
da Câmara por tempo indeterminado, afinal de contas, não se sabe até quando
essa situação prosseguirá, parece-me que, se não fossem outras razões, até
pelas repercussões junto à opinião pública - uma Casa fechada - nós, que há
poucos dias atrás vimos à tribuna para nos solidarizar com o Sr. Presidente da
Casa, que manteve a Casa aberta, agora, contra-senso, iremos propor a
suspensão, por tempo indeterminado, porque os banheiros não funcionam. Seria um
desprestígio à Casa. Pelo contrário, acho que deveremos trabalhar, inclusive,
para reverter esse quadro.
O SR. NILTON COMIN (Questão
de Ordem):
Sra. Presidenta, gostaria de discutir a matéria, já que V.Exa. colocou em
discussão.
A SRA. PRESIDENTE: Nós não colocamos em
discussão. A Mesa está ouvindo as Questões de Ordem apresentadas.
O SR. NILTON COMIN: Não gostaria de apresentar
uma Questão de Ordem sem discutir a matéria.
O SR. KENNY BRAGA (Questão
de Ordem):
Sra. Presidente, ouvi as ponderações do Ver. Mano José e, depois, do Ver.
Flávio Coulon. Acho que esta Casa não pode cair no ridículo de suspendermos uma
Sessão de uma segunda-feira porque os banheiros estão sujos. Temo pelo ridículo
em que cairia a suspensão da Sessão. Como justificaríamos perante a opinião
pública? É brincadeira! Vamos cair no ridículo.
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Nilton Comin para encaminhar o Requerimento do Ver. Mano José.
O SR. NILTON COMIN: O Requerimento apresentado
pelo nobre Ver. Mano José tem fundamento técnico. É óbvio, é quase periódico.
Agora, esta Casa, é uma casa política...
O SR. ISAAC AINHORN (Questão
de Ordem):
Não sei se há dispositivo no Regimento Interno que diz que os encaminhamento
são feitos fora da tribuna, mas tenho pouco tempo nesta Casa. Nunca vi
encaminhamento feito fora da tribuna.
O SR. PAULO SANT'ANA
(Questão de Ordem): Os encaminhamentos feitos da tribuna são os encaminhamentos feitos
para aqueles requerimentos por escrito. Não há um requerimento por escrito, há
um requerimento verbal. Se a Casa está discutindo o Requerimento, acho que não
é necessário que seja feito da tribuna.
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
Gostaria de dizer que foi devidamente anotado e que se buscará, imediatamente,
resolver o problema, contratando, por emergência uma firma para resolver o
assunto. De qualquer forma, vou determinar para sanar o problema imediatamente.
Enquanto isso, salvo deliberação expressa do Plenário, a Câmara funcionará, mas
nós manteremos o inquirido pelo Ver. Mano José para as providências imediatas
que o assunto requer.
O SR. NILTON COMIN (Questão
de Ordem):
Sr. Presidente, até por uma questão de respeito a este Vereador, foi-me dada a
palavra pela Presidência da Mesa. Acatei o aparte do nobre Vereador e vim à
tribuna e exijo respeito para que eu me pronuncie durante os minutos que
entendo necessários.
O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, a Mesa fez
a comunicação devida. Anotou. Cumprindo o Regimento Interno, dá a palavra ao
orador que se encontra na tribuna por 15 minutos. S.Exa. falará em tempo que
lhe cede a Ver.ª Gladis Mantelli em
O SR. NILTON COMIN: Inteligente a posição de
V.Exa., mas eu vou aproveitar para dizer aquilo que eu penso.
Mas, sobre a matéria que foi colocada pelo nobre Ver. Mano José, ela
tecnicamente é perfeita. Este Vereador apresentou ao Presidente dos trabalhos e
Presidente da Casa um ofício neste sentido, nobre Ver. Mano José. Apresentou ao
Ver. Brochado da Rocha um ofício no mesmo sentido. O que ocorre nesta Casa são
maneiras de fazer a higiene da Casa, métodos de fazer a higiene da Casa. É isso
que a Presidência da Casa e a Presidência dos trabalhos têm que atentar. A
maneira de fazer é que deve ser feita com condições técnicas, porque o que está
faltando nesta Casa é o desinfetante cresol, é creolina. É isso que está
faltando nesta Casa.
Agora, ocupando o tempo da Ver.ª Gladis Mantelli, eu quero fazer uma
colocação. Esta semana, o meu clube, o Esporte Clube São José, vai completar 74
anos de atividades. Fundado há 24 de maio de 1913, aqui ao lado, na Alberto
Bins, pelos alunos do Colégio São José, ontem tem hoje a igreja, foi ali que os
meninos da época, estudantes do colégio, fizeram um timezinho de futebol, e
este timezinho levou o nome do colégio - a Escola São José - e chamou-se
Esporte Clube São José. Houve um momento de indecisão quando os meninos, na
formação da sua ata, fizeram a ata. O padre, orientador dos meninos, exigiu que
a ata fosse feita em alemão e os guris não aceitaram. E aí começou a grande
rotina do São José. Os meninos foram se formando, tornaram-se adultos e o Esporte
Clube São José foi indo. Ele ocupou vários campos de futebol em Porto Alegre,
onde hoje é o Hospital de Clínicas, até que em 1941, foi para o Passo D’Areia,
em área que hoje o São José possui, de três hectares de terra.
Clube fundado da Federação Gaúcha de Futebol, com a evolução econômica
deste País e o Estado, sofreu uma série de modificações. Ele deixou de ser
aquele clubezinho de colégio para se transformar em clube esportivo, porque em
Porto Alegre dois segmentos sociais da maior importância - o segmento
germânico, o alto comércio - aliaram-se ao Grêmio, que é fundado em 1903, e as
massas populares, as pessoas mais humildes, fundaram o Internacional. O São
José, que também é de origem germânica, ficou com um segmento secundário, que
se chamava Clube da Floresta, o clube dos leiteiros. Então, o clube sofreu uma
série de modificações a que foi se adaptando aos poucos, sendo hoje um clube
que atua na segunda divisão do futebol. Mas aqui, no Rio Grande do Sul, no
Brasil, quando se fala em segunda divisão, nós fazemos um “oh!”, mas o Grêmio,
o próprio Internacional, quando jogam no Exterior, jogam com clubes de segunda
e terceira divisão. O brasileiro não dá valor para a segunda divisão. Para ele
tem que ser o maior do mundo ou o pior do mundo. O São José, na segunda
divisão, é o que são o Grêmio e o Internacional na primeira divisão. Ocorre que
não se dá muito valor para a segunda divisão, mas o São José não está dando
bola para que se dê muito ou pouco valor. Ele vai fazendo o seu trabalho,
vai-se transformando em clube aos pouquinhos, e eu tenho certeza, eu, que
milito há 25 anos no São José, que ele, dentro da sua pequenez, dentro da sua
humildade, ele vai crescendo aos poucos. Ele está construindo mais mil e 500
lugares, e existe um grande projeto para o São José. O difícil é executar o
grande projeto, que é um grande centro comercial no Passo D’Areia, na parte
oposta à Churrascaria Zequinha.
O Sr. Rafael Santos: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu, ao longo de dez anos, fui vizinho do Zequinha. Eu
morava ali, na Emílio Lúcio Esteves, e acompanhei de perto o Esporte Clube São
José, mesmo numa fase em que até o futebol praticamente foi paralisado. Mas vi
a segurança que as diversas diretorias tiveram no sentido de transformar o
clube de futebol numa associação, no sentido mais amplo da palavra. Acho que o
São José está no caminho correto: primeiro, formar uma infra-estrutura. Hoje -
V.Exa. disse muito bem - o São José é um clube de primeira linha na segunda
divisão, sujeito, a qualquer momento, a vir para a primeira, mas, quando chegar
nesta, há de chegar como um clube estruturado, forte, organizado. Eu acho que
as diversas diretorias que estiveram no São José, inclusive quando V.Exa.
presidiu o clube, tiveram um senso muito real, muito realístico de levar o São
José, que é um clube de coração, pois sempre se diz que em Porto Alegre todo
mundo é Grêmio ou Internacional e em segundo lugar Zequinha. Eu me congratulo
com V.Exa. neste momento em que faz esse pronunciamento com referência ao nosso
querido São José.
O SR. NILTON COMIN: Sou grato. Teoricamente, é
muito fácil apresentar a proposta. O difícil é realizá-la.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Realmente, somando-me ao Ver. Rafael Santos, eu
gostaria de me congratular com V.Exa., que lembra muito bem a passagem dos três
quartos de século do aniversário do Esporte Clube Zequinha ou São José.
Realmente, as diversas diretorias bem como seus conselheiros sempre deram à nau
Zequinha um bom rumo. O 4º Distrito, Assis Brasil e adjacências, tem naquele
clube a vida social que tanto falta ao Poder Público desenvolver nas mais
diversas zonas. O Zequinha responde com eficiência e eficácia.
Nobre Vereador, quando V.Exa. achar oportuno, eu gostaria de retomar o
aparte na primeira parte do seu pronunciamento, com respeito às ocorrências
aqui na Casa.
O SR. NILTON COMIN: E vejam bem: se o São José
conseguir, durante três ou cinco anos, fazer, através de um consórcio, o centro
comercial, que vai dar mais sete mil lugares aos assistentes de futebol e uma
receita que possa sustentá-lo na primeira divisão, em nível de ficar na
intermediação das forças, ele terá condições de sobrevivência, porque subir à
primeira divisão, isto ele tem feito seguidamente.
O Sr. Jorge Goularte: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu cumprimento V.Exa. e, até por uma questão e
justiça, devo agradecer ao São José, pois, quando fui Secretário do nosso
Município, precisei realizar uma feira de pequenos animais e de produtos que
vinham diretamente do produtor ao consumidor, e foi o São José que me deu
guarida. Gratuitamente, a Diretoria colocou o seu pavilhão e as adjacências do
campo de futebol para que fosse realizada a feira. E não foi só neste momento
que o São José participou. Ele sempre participa da vida de Porto Alegre. E eu
diria mais: não há um porto-alegrense que possa ter animosidade contra o São
José. Na opinião da maioria das pessoas, ele poderá ser o segundo clube, mas é
o clube do coração do porto-alegrense.
O SR. NILTON COMIN: Eu agradeço o seu aparte.
Mas vejam bem, Srs. Vereadores, o São José, este ano, está construindo mais mil
e 500 lugares. No próximo ano, ele vai lançar este grande empreendimento, mas
tem que ser através de um grande consórcio. Este centro administrativo é viável
devido às duas grande avenidas que tem a Zona Norte - é a Assis Brasil e a
Sertório. O fluxo da Sertório, hoje, é uma coisa incrível, e se o São José,
através de um grande consórcio, fizer um grande centro comercial, tenho certeza
que terá condições de sobrevivência. Pois veja bem, Ver. Paulo Sant'Ana,
ilustre desportista desta Casa, assim como o Ver. Kenny Braga, o Emílio
Bitencourt me disse, há muitos anos, várias vezes a mesma coisa: “Comin, há
quanto tempos estás no São José?” - “Há 25 anos.” - “Quantos foste Presidente?”
- “Dez anos.” - “Quantas vezes o São José ganhou do Grêmio?” - “Nesses últimos
25 anos - estão aí os registros na imprensa - de cada 10 partidas que o São
José jogou com o Grêmio, ganhou cinco.” Recentemente, há três anos, jogamos no
Estádio Olímpico e ganhamos de 2x0 em jogo da loteria esportiva. É a grande
touca do Grêmio. Mas o São José não está preocupado em ganhar do Grêmio ou
Internacional. A preocupação é a de se firmar como clube.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Quantas vezes ganhou do Internacional?
O SR. NILTON COMIN: Algumas vezes. Não tenho
culpa das vitórias.
O Sr. Kenny Braga: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Congratulo-me com V.Exa. pela passagem do aniversário
do São José. É muito fácil e importante um clube ascender à divisão especial do
futebol gaúcho. Refiro-me a um time da minha terra, Livramento. O Armour
ascendeu à divisão especial, mas não teve estrutura administrativa para lá permanecer
e acabou dando vexame.
O SR. NILTON COMIN: Vereador, o São José, hoje,
tem seis mil e 500 sócios pagantes. Classe média baixa freqüenta o clube e,
durante o verão, ocorre sua maior fonte de arrecadação através da piscina. Tem
a Churrascaria Zequinha, explorada por um executivo. Nesta quinta-feira irá
homenagear os Vereadores desta Casa introduzindo em Porto Alegre um novo
sistema de “show”, através de palcos móveis. O São José, dentro da sua
humildade, está tendo um crescimento razoável, pequeno e razoável, mantendo
equipes de juniores, em que foi campeão, ainda no ano passado, da segunda
divisão. Ocorre o seguinte: é muito difícil numa sociedade capitalista formar
um jogador modesto. Porque os jogadores de futebol são de origem humilde.
Então, aparece no São José um guri muito bom na categoria infanto-juvenil. Ele
recebe uma cantada do Grêmio ou do Internacional. Vem o pai, a mãe, o tio, a
tia ou a avô. Na terceira cantada, ele está no Grêmio ou no Internacional. Não
tem como segurar o guri, porque até entra aquela venha choradeira: “mas ele não
quer ajudar” futuro do meu clube, do meu guri, ou do meu sobrinho ou do meu
neto; deixa ele ir para o Grêmio ou o Internacional”. E assim nós vamos
perdendo, a cada ano, uma série de jogadores.
Eu quero dizer aos nobres Vereadores que, durante a semana, vou-me
ocupar, todos os dias, o que for necessário, para fazer colocações aqui e
contar alguma coisa da vida do São José. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Mano José, V.Exa. tem a
Questão de Ordem.
O SR. MANO JOSÉ (Questão de
Ordem): Sr.
Presidente, nós fizemos alguns requerimentos há alguns minutos atrás e, tendo
em vista a deliberação de V.Exa., nós ficamos satisfeitos, porque o nosso
Requerimento ensejou a que V.Exa. tomasse esta deliberação de contratar uma
firma particular para a limpeza dos banheiros da Casa. Nós, então, retiramos o
Requerimento.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa agradece a
colaboração de V.Exa. à Casa.
Liderança com o PC do B, Verª Jussara Cony.
A SRA. JUSSARA CONY: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Solicitamos o tempo de Liderança nesse momento, agradecendo,
inclusive, aos Vereadores inscritos no Grande Expediente, porque temos um
compromisso daqui a pouco pela atuação que a Câmara vem tendo junto à questão
dos municipários na assembléia que se realiza no Araújo Vianna, porque não
podemos, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, deixar passar dois fatos concretos.
Mais uma vez, fomos obrigados, através desses dois fatos, a vir a essa tribuna
denunciar que a violência policial e a repressão em nosso País não terminou;
pelo contrário, está numa escalada cada vez maior. Ao relatar na Casa esses
fatos, do conhecimento de todos os Vereadores, tenho certeza, apenas destacamos
nessa tribuna e encaminhamos concretamente à Mesa da Câmara Municipal e temos
certeza que teremos a aquiescência das demais bancadas desta Casa - o pedido
formal de que esta Casa esteja junto com os segmentos democráticos, como o
Movimento Negro Unificado do Rio Grande do Sul e Movimento de Justiça e Direitos
Humanos, à testa das providências que têm que ser tomadas no sentido da
apuração desses dois fatos, entre tantos que continuam sendo adotados em nosso
País, cometidos contra as forças democráticas e populares. Senão, vejamos, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores. Em primeiro lugar, contamos com a presença, o que
muito honra esta Casa, dos estudantes da UNISINOS, membros da Comissão de
Mobilização contra os aumentos das anuidades, diretores do Diretório Acadêmico
Paulo Freire, da UNISINOS; César Augusto Moura, que também é Suplente de
Vereador em Santiago, do PT; Luiz Antônio Nascimento Moura e Leda Meneguso.
Esses três estudantes, no último dia 13 de maio, na passeata feita no dia
nacional de luta contra o aumento das anuidades e também contra a anulação da Resolução
186 da SEC, foram espancados pelo Batalhão de Choque da Brigada Militar,
arrancados do cordão de isolamento, inclusive cordão feito pelos próprios
estudantes no sentido de tentar negociar a entrada na Rua Duque, continuidade
da passeata. Os dois estudantes - César Augusto Moura e Luiz Antônio Nascimento
Moura, irmãos (até houve a defesa de um irmão; na medida que o outro estava
sendo espancado pela Brigada, o irmão foi em sua defesa), - foram fichados na
polícia, indiciados por agressão e desobediência, quando temos fotos, aqui,
entregues pelos estudantes, que mostram quem realmente estava sendo agredido. A
companheira Leda Meneguso, também estudante da UNISINOS e membro da Comissão de
Mobilização, teve um dos seus filmes levados, estragada sua máquina
fotográfica. Foi agredida no incidente. Só não foi levada junto com os outros
dois companheiros pelos policiais porque foi retirada das mãos dos policiais
pelos estudantes. Mas vai adiante: no dia 14, quinta-feira, a estudante Leda
Meneguso passou o dia no DCE da Universidade e no DA das Comunicações. À noite,
quando chegou em sua casa, soube que policiais à paisana estiveram lá
extra-oficialmente e deixaram um
bilhete, do qual temos a cópia, assinado, dizendo: “Eu sou o oficial que
comandava a operação”. Isso não bastando, conforme saiu na Zero Hora de
sexta-feira, os policiais procuraram a estudante e não a acharam. A estudante,
naturalmente, estava na sua universidade, nas suas atividades. Sexta-feira,
pela manhã, os policiais voltaram à sua casa, insistindo em falar com ela e
ameaçando voltar, sem nenhum papel oficial para isso. Como se não bastasse, em
Caxias do Sul, seu pai, em sua residência, e sua irmã, em seu local de
trabalho, foram procurados para que dissessem às pessoas que os procuraram e não
se identificaram onde estava a estudante.
Um outro fato, Sr. Presidente, para o qual solicitamos à Mesa e às
Lideranças um minuto a mais de atenção e a possibilidade de terminarmos de
relatar, é o fato triste que ocorreu com um companheiro militante do Movimento
Negro do nosso Estado, Júlio César de Melo Pinto. Operário da empresa Cartaz
Engenharia, trabalhador, com 30 anos, que, infelizmente, morava a uma quadra do
supermercado assaltado, o Dosul, e que na hora estava ali, como outros
populares, vendo o que acontecia, saiu de casa para ver o que estava
acontecendo. E o Júlio César está morto. Só que as fotos - e isso a Zero Hora
de hoje publica, na coluna policial - feitas por esse mesmo jornal mostravam
que Júlio Cesar saiu com vida e não apresentava nenhum ferimento de arma de
fogo. Saiu a bordo da viatura 286, da Brigada Militar, por volta das 19h30min,
e chegou morto ao Hospital de Pronto Socorro, onde deu entrada das 20h07min,
baleado no tórax e no abdômen. São dois fatos, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
entre tantos outros, contra democratas, contra estudantes, contra operários,
contra aqueles que, de um lado, não têm nada a ver com o fato ocorrido e, de
outro lado, estão em lutas pelos seus direitos, ressaltando-se, aqui,
lideranças estudantis e lideranças do Movimento Negro do Rio Grande do Sul.
Conclamamos, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, todas as bancadas, em
conjunto com o Movimento Negro e com o Movimento de Justiça e Direitos Humanos,
esta Casa, através dessa Mesa, para que esteja atenta no sentido da verdadeira
apuração desses fatos graves e que vêm de encontro a toda luta que travamos, em
conjunto, pela liberdade e pela democracia. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Jaques
Machado):
Com a palavra, em tempo de Presidência, Ver. Brochado da Rocha.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Em tempo em que no País rigorosamente não exerce nenhuma ordem
legal, instaura-se paulatinamente um processo em que as atitudes e, sobretudo,
os dissídios ou as lutas reivindicatórias não podem, ou não devem, ou não se
encaminham dentro de uma decisão conjuntural. Forçosamente, ocupa o lugar dos
políticos e as decisões políticas que devem ser tomadas o aparelho de repressão
do Estado. Todos nós sabemos - e como sabemos - que o aparelho repressivo do
Estado, o Estado enquanto Estado, ele não é perfeito e nem poderia ser
perfeito, eis que ele funciona como repressão. Este vazio leva até à
alucinação, que eu considero uma requintada alucinação de um certo número de
pessoas da nossa cidade que chegam até a aplaudir o antigo Ministro da Fazenda
Delfin Neto. Eu digo que, neste momento, nesta quadra, neste instante, a
sociedade civil enlouqueceu, sem nenhuma memória, sem nenhum conteúdo ético,
sem nenhuma diretriz política, funcionando rigorosamente tudo, em relação às
classes instauradas no País, de uma forma disforme, perdendo os partidos
políticos a sua própria legitimidade na medida em que estabelece as suas
contradições. Dentro deste quadro, podemos ir, podemos nos solidarizar com o
que aqui colocou a Ver.ª Jussara Cony. Mas eu diria que isto é apenas um
episódio dentro de um quadro. Há um vazio político, um vazio político que
emerge da Presidência da República, que é o único cidadão que não é eleito
neste Brasil. Até síndico de edifício é eleito. Ao mesmo tempo, a classe
política encontra-se rigorosamente paralisada. Acho, até por formação, que a
Constituinte é muito importante, mas eu pergunto: não estão exaurindo o País?
Não estão exaurindo as forças políticas, antes de encaminharmos o processo
final para a votação da Constituinte? Votaremos o que, na Constituinte? A
miséria a que foram conduzidos o povo e a Nação enquanto Nação, tão-somente, e
não como o Governo?
O Sr. Pedro Ruas: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Brochado da Rocha, ilustre Presidente desta
Casa, eu acompanho com atenção o pronunciamento de V.Exa. e refiro que, sem
dúvida, os episódios referidos da tribuna pela Ver.ª Jussara Cony se
caracterizam, como diz agora V.Exa., num caso dentro de um quadro geral, porém
saliento que é um caso, efetivamente, mas um caso de extrema gravidade, que
deve ser necessariamente apurado. Desde já me parece importante que não só a
Mesa desta Casa, como também outras entidades civis, além das referidas pela
Ver.ª Jussara Cony, tais como a OAB, algumas outras se devem manifestar neste
episódio e devem trabalhar juntas na elucidação do caso. Mesmo sendo um caso
dentro de um quadro geral, ele representa, em si mesmo, uma das coisas mais
sérias que podem ocorrer aos cidadãos desprotegidos deste País. E me congratulo
com V.Exa. pelo seu pronunciamento, que me parece bem adequado ao que está
sendo discutido em nossa realidade brasileira.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Vereador, de forma alguma
quis desmerecer um episódio. Apenas me preocupa, quando se traz um episódio,
que eu estou a ver, longe, imediatamente, que vários episódios, numa aliança
terrível, instigada pelos Delfins Nettos da vida e sob os aplausos daqueles que
não têm memória, instalam-se no País. E esses passam a ser os críticos daqueles
que foram da classe política que se mobilizou enquanto classe política. Acho
que a Casa deve tomar providências, porém, de repente, se continuar esse
caminho que está sendo dado à Nação pelo Governo, vamo-nos transformar
simplesmente num permanente tribunal de inquisição. Neste momento, sobretudo,
afirmo que não acredito na repressão como forma de dirigir uma nação. Enquanto
for necessária a ação, que não de forma excepcionalíssima, das forças de
repressão, a Pátria não irá bem. Era isto que fundamentalmente queria colocar:
teremos um caso, teremos mil casos e, sobretudo, teremos os casos anônimos, que
não virão a este Plenário.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Falo em meu nome pessoal. Já dessa tribuna pedi ao
Presidente de meu partido que rompesse com o Governo Federal e com o Governo
Sarney, mas deixo claro que subscrevo qualquer moção de V.Exa., assim como
qualquer requerimento da Ver.ª Jussara Cony. Peço, inclusive, um esforço de
V.Exa. e desta Casa no sentido de analisarem uma questão: parece que, com o
mandato presidencial, o seu número de anos, está se encobrindo algo de
desmando, de desgovernos neste País, atrás de uma preocupação presidencial ou
deixando toda uma nação preocupada pelo número de anos do mandato de
Presidente. Assuma e trabalhe durante esses quatro anos e fim.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Gostaria de acrescentar um
discurso feito pelo Ver. Aranha Filho que mostrava a absoluta impossibilidade
até da classe privada caminhar nesta Pátria, exceto aquelas que estão
envolvidas em coisas como a Ferrovia do Aço. Ou seja, a classe política para a
classe assalariada é massacrada. A classe empresarial, segundo diz o Ver.
Aranha Filho, com absoluta propriedade, tendo em vista a atividade que vai
desempenhar uma indústria, é absolutamente inviável - a média, a pequena ou a
grande, exceto se a grande for impulsionada por capital estrangeiro,
multinacional. Aí é outra questão. Mas também gostaria de inserir nisto.
Aceleradamente, se transforma num caos.
Ver. Aranha Filho, gostaria de deixar claro sobre o assunto do mandato,
se é que o atual Presidente é sucessor do Presidente falecido, Tancredo Neves:
sempre foi dito pelo falecido Tancredo Neves que era de quatro anos. Se ele
quer honrar o compromisso, que honre.
A Sra. Jussara Cony: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Em primeiro lugar, Sr. Presidente, quero destacar a
importância das forças democráticas para aqueles que vêm nesta Câmara, neste
lugar de resistência e de luta, a importância do pronunciamento de V.Exa. como
Presidente desta Casa, e, inclusive, pronunciamento político de extrema
coerência na medida em que coloca, exatamente, a questão central, que é o vazio
do poder que temos hoje neste País. A substituição do Presidente Sarney é o
motivo central, inclusive, da crise política que vivemos. Aí, neste sentido,
movimenta diversas correntes, desde as forças democráticas e populares, que
juntas haverão de encontrar uma saída, até às forças reacionárias e aos
próprios militares. O Ministro do Exército ameaça, inclusive, a população
contra toda e qualquer mobilização em torno de se ocupar, num processo, esse
vazio de poder. E não temos dúvidas de que, realmente, esta é a questão
central.
Agradecendo o seu pronunciamento, a sua postura em relação aos dois
fatos que trazemos, aproveitamos também para dizer que a indicação do Ver.
Pedro Ruas é de extrema importância. A OAB necessariamente estará nesse
processo. Mais uma vez colocamos como decisivo, e temos certeza de que teremos
o apoio da Casa e de todas as Lideranças, que esta Câmara participe nesse
processo, porque são dois fatos entre tantos, exatamente, contra as forças
democráticas que nesse momento, mais do que nunca, têm que estar em unidade
para encaminhar esta Nação aos rumos da soberania, da democracia, da liberdade
e das próprias liberdades democráticas que estão em jogo. Então, Sr.
Presidente, nós achamos de extrema importância a postura de V.Exa. como
Presidente desta Casa.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Mas acrescento a V.Exa.
que, enquanto isso acontece, começam a bater palmas para o Delfin Netto. Aí é
que eu julgo o problema mais sério.
A Sra. Jussara Cony: Não querendo tornar num
diálogo...
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Mas o diálogo deve ser
estabelecido.
A Sra. Jussara Cony: Não por acaso!
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Eu só quero colocar nesta
tribuna duas coisas fundamentais: ao dar o apoio a V.Exa., quero dizer que não
acredito na repressão como repressão - primeiro; segundo, que tal é o desmando
do País, tal é a falta de memória ou de pudor que até o Sr. Delfin Netto é
pessoa de quem poderíamos ter muito respeito humano, mas cujo cidadão político
é um cidadão indesejável.
A Sra. Jussara Cony: “Persona non grata”.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Mais do que “persona non
grata”, muito mais! Em nível cívico, Vereadora, esse cidadão representa toda
uma caterva que devassou o País. Ele foi mais do que qualquer Presidente da
República. É assustador que se batam palmas para esse cidadão que, eu diria, na
vida pública é uma excrescência. É uma excrescência bem perto do substantivo da
palavra.
O Sr. Antonio Hohlfeldt: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Não apenas um adendo ao comentário de V.Exa., que o
Presidente Sarney deveria, pelo menos, cumprir a palavra em relação ao
Presidente Tancredo Neves. É bom que a gente lembre que, quando da posse da
Constituinte, e um dia destes a TV Manchete recolocou as imagens, o Presidente
Sarney, ele próprio, disse que, se dependesse dele, o mandato seria de quatro
anos. Ele, não em nome de Tancredo Neves, ele dizia que, reconhecendo a
autonomia da Constituição, ele próprio, se decidisse, decidiria por quatro
anos. Então, mais do que apenas honrar a palavra de Tancredo Neves, que ele
substitui, disse isto e que acreditava nisto.
Quero-me congratular, também, com V.Exa. com relação à questão da
repressão, porque eu acho que esta postura é muito importante, vinda de V.Exa.,
vinda de alguém que integra o Partido Democrático Trabalhista, vinda de alguém
que é hoje o Presidente do Legislativo, e parece que nos dá uma expectativa,
inclusive, de nós mantermos, aqui na Casa, um espaço aberto para discutirmos. E
aqui não faço comentário em nível de provocação, mas um comentário que eu acho
necessário trazer à Casa, da repressão que ocorreu na sexta-feira, de
madrugada, por parte da Brigada Militar chamada pelo Prefeito Alceu Collares -
e é o terceiro caso, então - para reprimir grevistas em frente ao DMLU.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Sr. Vereador, falo,
sobretudo, com a minha consciência, forjada ao longo de muitos anos. Não vou emprestar a ninguém a minha consciência.
Apenas quero reafirmar perante todos que não acredito na repressão como
repressão. Ela esconde a justiça. Falei em caráter genérico e doutrinário, e
passa pelo vazio político. Quero dizer a V.Exa. que li atentamente a entrevista
do seu líder, concedida a uma das revistas que circulam no País, e achei, no
meu julgamento e das pessoas que fazem parte do meu debate constante, sumamente
importante e com um senso de equilíbrio espetacular. Quero, também, referir-me
a um detalhe. Vou descer do nível de V.Exa., que é proclamado por todos como um
intelectual. Vou responder em nível popular uma questão que V.Exa. colocou, que
o Presidente Sarney declarou que queria apenas quatro anos. Há sinceridade
nisso? Dá samba e dá ridículo, porque a manobra é outra, e todos nós sabemos.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) O problema do mandato, a duração do mesmo é o que
menos importa. O que importa é, realmente, ele assumir.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: É verdade. Aliás, a rigor,
e por muitos, é tomada como muito duvidosa a presença do Presidente Sarney. E
vou mais longe: na medida em que as forças políticas não se conscientizarem que
precisam tomar providências, qualquer que seja o Ministro da Guerra ele não
sustará a ação dos seus comandados em direção a outras posições. Vide o caso da
Argentina. Há o vazio político, há a inconformidade social. Acho que o Ministro
da Guerra não tem nada a ver com isso, mas acho que, à medida que se aplaudem
Delfins Nettos, está se abrindo um espaço político institucional para outros
fins que não uma democracia e que não uma justiça social adequada. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Ignácio Neis, que cede seu tempo ao Ver. Wilson Santos em Grande Expediente.
O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, em primeiro lugar, agradeço ao Ver. Ignácio Neis, pela cedência do
tempo. Eu quero dizer que é maravilhoso ter a voz perfeita, quando tantas
emudecem; é maravilhoso ter os braços perfeitos, quando há tantos mutilados; é
maravilhoso ter olhos que vêem, quando há tantos sem luz; e é maravilhoso,
também, ter a movimentação perfeita, quando há tantos paralíticos. E aqui é que
eu me detenho: paralisia, poliomielite, é uma infecção que atinge um feixe de
músculos, gerando, como conseqüência, a paralisia total. É um mal irreversível.
É a paralisia um horror e está aí um grande movimento mundial e nacional em
termos da eliminação da propagação da poliomielite. E aí um gigante se levanta,
e este gigante que se levanta na tentativa de frear este mal é o Rotary Clube.
E eu quero dizer que praticar a caridade no anonimato, no silêncio, é um ato
cristão, é digno de elogios, é meritório. Mas, muitas vezes, calar é
ingenuidade. E eu acredito que estão abusando da ingenuidade do Rotary Clube,
especialmente o Governo do Estado. O Rotary Clube, especialmente o Governo do
Estado. O Rotary Clube do Distrito 467, que tem como governador o rotariano
Ênio Tedesco, junto com a fundação rotariana de Porto Alegre, levou a efeito
uma grande ação comunitária e deu condições para que a Secretaria do Estado
possa adquirir um milhão e duzentas mil doses de vacinas contra a poliomielite.
O programa do Rotary do nosso País prevê a destinação de seis milhões de
dólares, em cinco anos, para a campanha contra a paralisia infantil. Então,
aqui é que eu grifo: fazer a caridade em silêncio passa a ser ingenuidade. Hoje
mesmo os jornais trazem uma reportagem do Secretário da Saúde, Antenor Ferrari,
em que ele fala da campanha que será instalada nos próximos dias no Rio Grande
do Sul, mas não fala uma linha da participação dos Rotarys. De forma que
aproveito esta tribuna para recolocar as coisas nos devidos lugares. Há
necessidade de três doses por criança, consequentemente, um milhão e 200 mil
doses que o Rotary Clube, com esta última campanha, levantou - uma cifra de 744
mil cruzados -, permitindo a compra de um milhão e 200 mil doses de vacinas,
proporcionando a vacinação a 400 mil crianças. De forma que este é o gesto de
justiça que quero fazer nesta tribuna.
Um segundo assunto que também quero externar se reveste de uma
importância muito grande, até mesmo de suma gravidade. Até acho que pode ser
tomada como uma denúncia. A Comissão Municipal de Defesa Civil, órgão que deve
estar integrado no Sistema Estadual de Defesa Civil, importante na defesa da
comunidade, importante na defesa das famílias de Porto Alegre, posso dizer que
não existe e são réus consórcios o Coronel Militão, Presidente da Comissão
Municipal de Defesa Civil, com quem tive oportunidade de falar por telefone, e
o Secretário da Comissão Municipal de Defesa Civil, Sr. Casanova. Ambos se
declaram sem condições de fazer qualquer coisa em defesa civil em Porto Alegre.
Estão colocados numa salinha na Secretaria Municipal da Saúde e Serviço Social,
escondidos, sem meios de comunicações. Disse o Coronel Militão e o Secretário
da Comissão Municipal de Defesa Civil que já pediram providências ao Prefeito
Collares, que os nomeou, e não receberam providência nenhuma. O Ver. Adão
Eliseu faz por mímica o sinal de recursos.
O Sr. Adão Eliseu: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, na verdade, eu estava querendo contribuir,
mas querer contribuir num discurso é uma coisa, conseguir é outra. Claro que
por mímica é difícil V.Exa. compreender-me. Quero informar a V.Exa., e isso é
contra o meu Governo, que o Coronel Militão é Chefe da Divisão do Setor de
Defesa Civil do Município e não percebe um tostão através de FG nenhuma. Embora
tenha tentado acertar a situação, não recebe nada. Acho uma situação ruim,
difícil, que o meu Prefeito, Prefeito do meu partido, terá que acertar
fatalmente.
O SR. WILSON SANTOS: Ver. Adão Eliseu, é
evidente que quem acompanhou passo a passo a Administração João Antônio Dib vê
que não é fácil administrar com os poucos recursos que se tem. Eu tenho sido
muito mais um colaborador do Governo Alceu Collares por ter sentido na carne as
dificuldades financeiras que tem o Município. Entendo, entretanto - há de
chegar o momento, Ver. Adão Eliseu -, que tem que se pesar na balança e colocar
as prioridades, porque veja uma coisa: eu fiz um pronunciamento aqui, nesta
Casa, dizendo da necessidade de desobstruir o Arroio Sarandi, estrangulado
especialmente embaixo da ponte, sobre a Zeferino Dias. Fiz contato com o
Diretor do DEP e com o Diretor do DEP - Zona Norte, que alegou não ter dinheiro
e não ter mão-de-obra. Falei com o Diretor do DMAE, Dr. Peterson, e ele se
colocou à disposição para ceder mão-de-obra para o DEP, mas só a mão-de-obra
não daria, teria que ter recursos e o DEP não tem recursos para desobstruir o
Arroio Sarandi. Aí, fiz um Pedido de Providências ao Prefeito, dizendo que a
Vila Leão iria ficar debaixo d’água se essas providências não fossem tomadas.
Quinta-feira passada tive a tristeza de ir lá e ver as casas debaixo d’água na
Vila Leão porque não foi desobstruído o Arroio Sarandi. O tempo está ruim,
aquelas casas vão ficar novamente embaixo d’água. E aí se pergunta: não existem
recursos? Não existem recursos, mas uma comissão - eu ia fazer um estrelismo
aqui, mas vou respirar fundo para não fazer - não deve ser extinta. Há
declaração do Cel. Militão, Presidente da Comissão Municipal de Defesa Civil,
de que ela não tem condições. Há declaração do Sr. Casanova, Secretário da
Comissão, de que não tem condição, não tem recurso. Não vou pedir a extinção.
Vou apelar ao Prefeito e à Coordenadoria de Defesa Civil para que estudem a
situação calamitosa, porque a calamidade não está atingindo Porto Alegre, mas
está atingindo a Comissão Municipal de Defesa Civil.
A Sra. Bernadete Vidal: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, quem morou 13 anos na Vila Leão e sabe do
problema também sabe que não é muito dinheiro que vai lá. Se a Prefeitura se
preocupasse com um pouco menos de publicidade com as obras que não faz e se
dedicasse a fazer essas pequenas obras nos bairros, acho que o Prefeito seria
mais bem visto do que pela publicidade, que, creio, está saindo bastante cara.
O SR. WILSON SANTOS: Acolho o seu aparte. É
justamente o que eu falava, Vereadora. É preciso estabelecer uma prioridade.
Sei que o Município tem dificuldades, mas estas coisas são prioritárias. As
famílias sofreram estas agruras, as famílias ficaram num estado momentâneo de
desgraça com as chuvaradas de quinta-feira.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, quero-lhe cumprimentar pelo seu
pronunciamento, nas suas duas partes. Esse da Defesa Civil... Somo-me a V.Exa.
na medida em que entendo que há um cacoete generalizado no nosso País. Aliás,
já vem desde a criação dos Conselhos. É que colocam... E vejam bem: não tenho
nada contra a Polícia Militar. Mas por que, nos Conselhos de Defesa Civil, colocar
a Polícia Militar? Essa é uma preocupação que venho, há longo tempo, estudando.
Até acho que não deveria participar, principalmente, naquela atividade de
apagar fogo, como os bombeiros, uma guarnição exemplar. O que deve fazer a
Defesa Civil é planejar. A história existe. É só saber o que aconteceu nos
últimos 50 anos em Porto Alegre que se sabe aonde vai acontecer uma cheia,
porque elas estão para chegar. É só pretear para o lado dos castelhanos ali e
fica todo mundo apavorado. Então, é preciso planejar, e para planejar não
precisa muito mais gente. É só buscar de todas as secretarias um ou dois
elementos para participarem deste planejamento. Agora, dinheiro também tem. Na
semana que passou, nós assinamos aqui um empréstimo para o DMAE, do FINEP, para
contratar gente para providenciar estudos. Estudos! Então, por que não usar um
pouquinho desta verba para a Defesa Civil?
O SR. WILSON SANTOS: Eu acolho o aparte de
V.Exa.
O Sr. Adão Eliseu: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu faço questão de me introduzir no aparte do Ver.
Aranha Filho no sentido de tentar colocar as coisas nos lugares, pelo menos o
mais aproximado do acerto. Ocorre que defesa civil não é só planejar, é
executar, e quem executa é a Brigada Militar através do seu pessoal, do Corpo
de Bombeiros e do pessoal do policiamento. Quem planeja e executa é a Brigada
Militar. Quero informar a V.Exa. ainda mais: há algum tempo o projeto que
reestrutura o gabinete, o escritório - seja o que for - de Defesa Civil, a
Coordenadoria de Defesa Civil do Município, está nesta Casa há dois meses, na
Comissão de Justiça, e não anda. E agora, o que acontecerá quando vierem as
enchentes?
O SR. WILSON SANTOS: Na verdade, a situação não
pode continuar como está. Eu apelei à Comissão Municipal de Defesa Civil quando
a Vila Leão, quinta-feira passada, estava embaixo d’água. A Comissão Municipal
de Defesa Civil ficou sem saber o que fazer. Ontem voltei a falar com o Coronel
Militão e ele declarou que não tem as menores condições, tendo uma sala escondida
na Secretaria Municipal da Saúde. O que eu quero para Porto Alegre - é minha
obrigação - especialmente, já, onde aconteceu a inundação na quinta-feira
passada, é uma solução, porque já disse ao Secretário da Comissão Municipal de
Defesa Civil que, se tivesse um plano de ação aqui - concordo com o Ver. Aranha
Filho -, seriam acionados, então, o DNOS, o DEPRC, a Secretaria de
Desenvolvimento e Obras Públicas do Estado. Agora, quem tem que acionar essa
alavanca, esse botão, é a Comissão Municipal de Defesa Civil.
O Sr. Adão Eliseu: Isso aí não existe. O que
existe é a Defesa Civil do Estado.
O SR. WILSON SANTOS: Existe, criada por decreto,
a Comissão Municipal de Defesa Civil. Existe um Presidente - o Cel. Militão. O
que não há é operacionalidade. Ela está morta.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, há três anos experimentamos, aqui em Porto
Alegre, uma situação “sui generis”, que foi um acidente simulado no aeroporto.
Diversas pessoas falaram contrariamente, dizendo que gastaram um milhão de
cruzeiros. Que um milhão de cruzeiros bem gastos aqueles para não se saber
aproveitá-los! O que existe de conhecimentos adquiridos a partir daquele
acidente simulado! Se aproveitássemos didaticamente o que nos foi ensinado,
seria uma beleza, mas isso foi perdido. Existem “video-tapes”, recortes de
jornais, mas hoje, se acontecer qualquer acidentezinho aviatório por aí, o
Hospital de Pronto Socorro, por exemplo, não pode receber mais de cinco
queimados ao mesmo tempo! Muito obrigado.
O SR. WILSON SANTOS: Eu concluo, Sra.
Presidente, dizendo que todo esse problema levantado sobre defesa civil é apenas um arroio de três metros de largura
que tem que ser limpo numa extensão de 100 metros, e a não-execução desse serviço
deixou uma vila embaixo d’água. Vejam! É necessária uma providência urgente ou
não é? Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. BERNADETE VIDAL
(Questão de Ordem): Sra. Presidente, eu gostaria de fazer uma Questão de Ordem que não se
refere aos trabalhos de Plenário. Não sei se o Regimento me ampara, mas
acontece, Sra. Presidente, que é impossível, impraticável trabalharmos no andar
térreo desta Casa com a sujeira, com o mau-cheiro dos banheiros, sem papel
higiênico, sem papel para as mãos, sem sabonete, andando pelos corredores
sentindo o mau cheiro, sem água. Não é possível! Eu estou indignada e penso que
todas as pessoas que trabalham na Casa, que estão sujeitas a essa humilhação,
estão indignadas como eu. Em me declaro sem condições de trabalhar lá.
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray):
Vereador, a Mesa acho que V.Exa. tem toda a razão, mas essa Questão de Ordem já
foi levantada pelo Ver. Mano José no início da Sessão e V.Exa. não estava
presente. O Presidente da Casa já tomou as devidas providências e encaminhou à
Sra. Diretoria Geral. E acolheu o pedido. Acha, realmente, já foram
encaminhadas estas providências.
A SRA. BERNADETE VIDAL: Mas, Sra. Presidente, isto
vem se arrastando. Eu já tinha feito uma reclamação.
A SRA. PRESIDENTE: A Mesa já tomou as
providências para o bom andamento da Casa. Agradeço a boa intenção de V.Exa.
A SRA. BERNADETE VIDAL: Eu não senti, ainda, ali
embaixo, as providências.
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Jorge
Goularte, pelo tempo que lhe cede o Ver. Isaac Ainhorn.
O SR. JORGE GOULARTE: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, o problema que existe nesta Casa, como disse o Aranha Filho, é o
retrato de Porto Alegre inteira. Infelizmente, a situação de Porto Alegre é
grande e é muito difícil.
Uma noite dessas, na última quinta-feira, fui convidado pela Associação
Cultural Minuano, que congrega os ex-integrantes do Partido de Representação
Popular, os integralistas que hoje fazem parte do Partido Nacionalista e fazem
parte, alguns, do PL, para dizer das minhas atividades e das minhas aspirações
e das minhas expectativas em relação a Porto Alegre. Eu lá pude sentir o que a
luta que tenho feito tem produzido naquelas pessoas que possuem um alto grau de
politização e de conhecimento, não só de política, como da situação de Porto
Alegre, que são inteiramente procedentes as nossas providências nos mais
diversos setores. Senão, vejamos. O problema da área central de Porto Alegre,
para o qual a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio apresenta idéias
velhas com roupagens novas, ou seja, nada de novo. Absolutamente, não
acrescentaram nada ao que já foi tentado nos anos passados. A Comissão desta
Casa apresentou também o óbvio ululante, verdadeiras situações como aquela de
dizer que “eu prefiro a morte a morrer”, o que dá no mesmo. Ou seja, a retirada
dos ônibus da Praça Parobé e a transformação em mercado modelo. Ora, os
porto-alegrenses podem não se lembrar de muitas coisas, mas o que se lutou para
que se fizesse isso não é de se esquecer. A retirada dos ambulantes, dos camelôs
em excesso para recolocação do mercado modelo é assunto velho. O que está
dizendo a SMIC é um verdadeiro absurdo. A retirada simplesmente é impossível.
Quem conhece o problema já sabe que é inviável. Se não derem alternativas para
o trabalho é impossível.
Vejam nesta área nada de novo surgiu. Dizem que vão construir
sanitários públicos. Na época, já havia conseguido que os permissionários
construíssem, às suas expensas, os sanitários cujo projeto estava pronto, com
uma capacidade grande e que atenderia à população e aos visitantes de Porto
Alegre. A recuperação dos atuais sanitários é uma velha reivindicação. Não digo
que somente eu pedi, porque todos Vereadores já pediram. É o óbvio. O Rafael
Santos já pediu, o Mano José também. Ouvi, ontem, que houve o I Encontro de
Produtores Rurais de Porto Alegre. Mas como? Já fiz mais de cinco; o Ver. Mano
José, uns dez; o Rafael mais dez. O Ver. Larry Faria, mais 15, etc. São coisas
sobre as quais não se pode calar. São besteiras que saem no ar e que nada acrescentam.
É difícil se trabalhar quando se massacra em situações que não mudam
absolutamente nada, como se fossem algo que iria beneficiar a comunidade de tal
maneira, uma coisa ímpar que nunca se viu igual. Tudo se transforma. Não se
criou absolutamente nada de novo. Apenas se conversa fiado e não se constrói
absolutamente nada.
A Sra. Bernadete Vidal: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Não, Vereador, mudou alguma coisa. A garagem era para
automóveis e virou garagem para ônibus. E esse mercado modelo que dizem que
será em cima da plataforma de embarque e desembarque não é bem assim, Vereador.
Ouvi o Secretário dos Transportes vendendo o projeto da estação de embarque e
desembarque de passageiros, dizendo que a Prefeitura estaria ali criando uma
área muito valorizada, quatro mil metros quadrados que poderiam ajudar a pagar
a obra. Quer dizer: os ambulantes foram cortados, a estas alturas, nos planos
secretos da Administração.
O SR. JORGE GOULARTE: Então, está pior o projeto
do que eu pensava.
A Sra. Bernadete Vidal: Está pior, Vereador. Está
pior ainda o projeto do Ver. Clóvis Brum, que quer mandar todos os Vereadores
da Marechal Floriano, Vig. José Inácio, Otávio Rocha e Voluntários, quer
colocar todos eles dentro da Praça XV. Aí, sim, Vereador, teremos aumento de
violência, porque a densidade demográfica vai ser muito grande. Nós vamos ter
muitos problemas. Além do que, no projeto, não se acha espaço para o comprador.
Ele vai ter que passar voando por cima das bancas.
O SR. JORGE GOULARTE: Observando o Centro de
Porto Alegre, verifiquei que voltaram as Kombis que retirei, quando Secretário,
podres e velhas, estacionadas, que não trafegam mais. Foram retiradas da
circulação e substituídas por aquelas banquinhas de aço, que foi um projeto feito
na minha gestão. As kombis, estacionadas, foram retiradas da Rua Siqueira
Campos, porque transformaram aquela rua, naquela época, num verdadeiro
pandemônio. Pois, voltaram em maior número do que o que havia.
Então, o Centro de Porto Alegre, que é dito que está sendo melhorado,
humanizado, está uma verdadeira baderna. Pasme, Ver. Antonio Hohlfeldt, que
anda muito naquela área - deve ter visto também. Até uma sapataria em frente ao
Bromberg, antigo na via pública foi colocada agora pela Administração. Mas
convenhamos! Então Porto Alegre vai ficar calada diante desse descalabro? É um
verdadeiro absurdo o que se vê. Não se consegue andar mais em Porto Alegre. A
insegurança, nem se fala! A insegurança das pessoas idosas, das senhoras. E
ainda aqueles obstáculos físicos. Mais este: frente ao Bromberg antigo, à atual
HABITASUL, uma sapataria. Veja! Quando se reclama que alguns camelôs e
ambulantes trabalham com uma banquinha de 1,20m! Mas uma sapataria inteira na
via pública! E está tudo bem! A sujeira, a imundície, a falta de luz, as ruas,
os buracos. É uma verdadeira calamidade pública. Eu vejo como muito mal parada
a situação. Está muito mal parada.
Quanto à parte da segurança de Porto Alegre, eu defendo mais uma vez o
aumento do efetivo da Guarda Municipal para auxiliar na segurança,
especialmente dos órgãos públicos, do Mercado Público e em torno do Mercado
Público, aquela área que fica ali, entre o Trensurb e o Mercado, onde é uma
terra de ninguém, onde normalmente as senhoras e pessoas de idade são assaltadas
por pivetes, dezenas de vezes por dias. Eu não sei, mas alguma coisa terá que
ser feita por esta pobre Porto Alegre. Sugeri, alguns dias atrás, uma nova Doca
Turística para Porto Alegre - eu já estou passando para outro setor, o turismo
- porque a Doca que nós temos em Porto Alegre nem com bússola se acha. Andando
para o lado norte, a 320 graus a noroeste, poderá se conseguir chegar num lugar
onde não é a Doca, mas ali vão informar onde realmente fica. Tanto por água
como por terra. Então, por que se quer recuperar este mostrengo do Gasômetro
que de histórico não tem nada? Mas se querem recuperar, por que não dar à
iniciativa particular e privada para que ali construam quiosques, restaurantes,
sorveteria e ali fazer uma doca turística onde a população saiba onde fica,
onde os pequenos barcos poderão atracar com tranqüilidade, onde se deverá ver
um pôr-do-sol belíssimo, melhorar aquela área abandonada? E seria mais um ponto
de atração e mais um pólo para se colocar ali ambulantes, camelôs. Mas não!
Tudo o que segure parece que vai para o espaço e não se utiliza absolutamente
nada.
A sugestão que dei, também, e que foi colocada nesta noite: a retirada
dos ônibus da Salgado Filho, a famigerada Salgado Filho. Quem não conheceu a
Salgado Filho com as suas palmeiras e que hoje é uma imundície? As pessoas que
ali ficam, nas filas de ônibus, não têm sanitários num raio de 1km. São
obrigadas a fazer as suas necessidades nas portas dos edifícios, nas
escadarias, nas portas dos cinemas, especialmente à noite. Por que não
construir um quiosque na pracinha próxima da Santa Casa e fazer ali sanitários
públicos externos? O trânsito de pessoas ali é muito grande. Por que não tirar
os ônibus da Salgado Filho e colocá-los, por exemplo, os que vão para a Zona
Sul, na Perimetral? Ah, mas vão caminhar muito? Mas é salutar caminhar. E
quantos atravessarão? Poucos! Alguns irão ficar ali pela Av. Borges mesmo ou
pela Salgado Filho, pela Riachuelo, pela Jerônimo Coelho, pelo Palácio do
Governo. Que se faça, então, uma linha circular de ônibus e se retire esse
excesso de ônibus numa única avenida, infernizando a população residente e o
comércio estabelecido ali na área. Então, são essas sugestões que eu já dei há
muitos anos. Isso não é de agora. Estou apenas repetindo cansativamente, exaustivamente.
Se não é a melhor solução, que alguém apresente outra sugestão que seja melhor.
Mas que não apresentem o óbvio, que não acrescenta absolutamente nada de
inovador, que não constrói absolutamente nada. Quando se propõe para a
segurança Centros Integrados de Serviços Essenciais, o Prefeito veta. E não é
válido para a comunidade que tenha lá, na sua área...
A Sra. Bernadete Vidal: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) E quando ele conclui não funciona também.
O SR. JORGE GOULARTE: É, eu sei que não. Então,
quando se propõem sugestões positivas, ficam nas gavetas. Quando se propõe um
projeto, se diz que se está usurpando o direito do Poder Executivo, e o Poder
Executivo absolutamente nada faz. Porto Alegre está uma vergonha! É lamentável
que nós, Vereadores, não tenhamos força para modificar este estado de coisas.
Eu repito: não faz dois anos que eu, pessoalmente, retirei as kombis podres da
Rua Siqueira de Campos. Hoje há mais kombis de que antigamente, acrescidas dos
estantes de aço que foram projeto deste Vereador para retirar as kombis velhas
e colocar os chaveiros. E ninguém resolve nada e é só conversa fiada! E é só
comissão disso e daquilo que não chegam a coisa nenhuma! A Comissão desta Casa
sugeriu - pelo amor de Deus, como eu disse inicialmente, prefiro a morte a
morrer - o que eu já sugeri há dez anos
e outros Vereadores há 40 ou 50 anos atrás. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Antonio Hohlfeldt em Comunicação de Líder.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sra. Presidenta e Srs.
Vereadores. O Ver. Brochado da Rocha, há pouco, abordando a questão da
administração federal, colocava-se contrário a uma administração feita com
repressão e dizia que, normalmente, ela busca encobrir um vazio de poder. Eu
não apenas concordo com esta observação, como acho que cabem algumas outras
interpretações à questão do uso da repressão. E esta idéia nem vem á cabeça
quando eu observo a maneira pela qual o Prefeito Alceu Collares vem reprimindo
a greve dos funcionários públicos municipais. Acho que quando se traem as
esperanças, quando se frustam as expectativas daqueles segmentos nos quais se
foi buscar apoio, aos quais se estendia a mão e os sorrisos durante a campanha,
mas aos quais se dá as costas e se atraiçoa posteriormente, quando, ocupando o
poder, evidentemente cabe apenas, depois, tentar mantê-los nos seus lugares,
tentar resistir às suas reivindicações através da polícia, da repressão, do
medo e da pressão... Nós teremos, no decorrer desta semana, tempo suficiente
para registrar, em detalhes, todos estes episódios definidos a partir do Paço
Municipal. Mas eu gostaria de, sobretudo, lembrar que não é através da pressão
e da ameaça sobre os diretores das escolas municipais de Porto Alegre, eleitos
por força da lei, que, por exemplo, a Sra. Secretária Municipal da Educação e
Cultura vai fazê-los trair um pacto firmado e que deixa claro que os senhores
diretores são, antes de tudo, professores, que respeitariam a assembléia de
professores e as suas decisões. Não será através da burla da opinião pública,
através de notícias plantadas pelos meios de comunicação, em que pretendiam ter
havido movimentos subversivos de quebra de sinaleiras, de rebentamentos de
canos de água, que se vai evitar a verdade de que sinaleiras precisam
manutenção permanente, de que canos de água em Porto Alegre estão velhos e que,
na verdade, os problemas enfrentados surgiram, de um lado, da greve, não por
problemas de quebras propositais, mas pela falta de manutenção.
Gostaria de chamar a atenção de que o Sr. Prefeito, no afã de manter
sua política de administrar através dos meios de comunicação exclusivamente,
não de fato, acabou se contradizendo várias vezes ao longo desses dias de
greve. Por exemplo, minorizava o número de grevistas, mas ao mesmo tempo se
queixava de que não tinha condições de atender às situações criadas com a
greve. Pelo menos durante dois dias e meio vimos uma situação de como o DMAE
perdeu o controle de fungas de água quando, ao lado do prédio da Prefeitura Nova,
uma gigantesca fuga d’água jorrava durante 72 horas, sem que o DMAE tivesse
tomado providências. Foram os grevistas que tiveram o bom-senso de pegar um
paralelepípedo e colocar sobre o cano quebrado. Não foi ninguém da Prefeitura,
nenhum guarda municipal ou secretário que se dignou abaixar-se para ali colocar
um paralelepípedo para tapar a fuga d’água, mas os próprios grevistas é que
fecharam a fuga d’água, evitando que houvesse mais desperdício desse liquido
que acaba sendo pago pela população.
Por outro lado, Srs. Vereadores, queria lamentar um discurso, que a mim
e a nós, do PT, muito desvaneceu, por parte do Sr. Prefeito Municipal, ou seja,
acusar o PT de comandar a greve. Continuamos recebendo promoção gratuita: do
Ministro Paulo Brossard, que depois teve de se desdizer, e do Prefeito
Collares, que deverá em algum momento, necessariamente, que modificar suas
palavras, pois, a bem da verdade, se algumas lideranças do movimento integram o
PT, e não há por que esconder, é bom que se diga que não foi apenas o nosso
partido que apoio a greve, como apóio, não no jornal, mas de fato, participando
do movimento. Mas é interessante se notar que há outros partidos que apóiam a
greve, e acho que fazem bem. Não tenho a menor dúvida quanto a isso.
Concluindo, Sr.ª Presidente, apenas para registrar que, se houve uma
politização, melhor dizendo, se houve juma partidarização do movimento, acho
que ele não partiu do PT e não partiu das lideranças. Partiu, sim, da política
do PDT de formar núcleos partidários dentro do serviço municipal, conforme a
denúncia do início do ano dos senhores engenheiros do DMAE, a qual nós havíamos
trazido ao Plenário desta casa. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. GETÚLIO BRIZOLLA: Sr. Presidente, solicito
verificação de quorum.
(É feita a verificação de quórum.)
O SR. PRESIDENTE: Constatada a inexistência
de quórum, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão e convoco os Srs.
Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental.
Estão levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 16h15min.)
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